Má digestão literária

Eu fiquei tão indignada que ia escrever um mega texto falando sobre o que achei do livro: "Entre a Mente e o Coração" da autora Lycia Barros. Mas achei um texto no site Janela Literária Cristã, com o qual eu concordo em grau, número e gênero e isso me poupou de rasgar o verbo sobre essa obra.
Quando se fala sobre algo entre a mente e o coração, você logo imagina uma batalha árdua entre o certo e o errado, mas não é o que acontece nesta história, onde o errado prevalece o tempo todo, disfarçado de certo.
É penoso e muito triste ver os comentários de jovens cristãos que leram este livro e demonstram ter pouca ou nenhuma maturidade e discernimento espiritual, tomando esta obra como exemplo para suas vidas.
Em uma entrevista, a autora mostra que tem como inspiração a escritora norte-americana Francine Rivers, que na verdade é inspiração para quase todo mundo que resolve escrever ficção cristã. A diferença é que, numa história de Francine, como a conhecidíssima Amor de Redenção por exemplo, há realismo espiritual, há fé, há discernimento, há uso concreto da Palavra de Deus, portanto, mesmo que hajam cenas de sexo e violência, isso acaba sendo o de menos, diante da mensagem puramente redentora que o livro passa.
Infelizmente, muitos autores cristãos adotam a liberdade de incluir sexo e violência em seus livros ("já que a Francine Rivers pode, eu também posso") mas esquecem que, se estamos falando de ficção cristã, o foco é a Palavra, a Salvação, o Espírito. Não se pode confundir liberdade com libertinagem, e se aproveitar da situação para colocar a mensagem do evangelho em segundo plano.
Lendo entrevistas com Lycia Barros e Francine Rivers, fica evidente a diferença entre o ponto de vista de ambas:
Seu livro “A Bandeja” já foi considerado um “romance gospel”. Para quem ainda não conhece o gênero, o que isso significa? O que esperar de um romance assim?Lycia: Este é outro motivo pelo qual sou muito comparada com o autor Nicholas Sparks, pois sempre falamos de Deus em nossos livros. Na verdade, embora os dramas e romance sempre sejam os temas principais das minhas obras, sempre falo um pouco da importância de se ter uma vida espiritual. Acho que o jovem contemporâneo não pensa muito nisso, mas quando leem sobre o assunto, recebem as mensagens superbem. Recebo milhões de e-mails deles falando sobre como algum de meus livros os transformou de alguma maneira, isso é muito gratificante.
Qual a diferença entre um "escritor cristão" ou um cristão que escreva?
Francine: Um cristão que escreve pode tecer princípios cristãos na história, mas o trabalho pode se suportar quando esses elementos são removidos. Um escritor cristão é chamado a apresentar uma história que é toda sobre Jesus. O Senhor é o fundamento, a estrutura e a Escritura tem tudo a ver com a criação e o desenvolvimento dos personagens na história. Jesus é fundamental para o tema. Se você remove Jesus e os princípios bíblicos da novela, ela entra em colapso.
Agora acompanhe a crítica do site Janela Literária Cristã:
Entre a Mente e o Coração” conta uma história diferente do ponto de vista de Rico, aqui, ele aparentemente “se converte”, assim como no final de “A Bandeja” e começa a conversar com a chefe dos missionários, Ana. Os dois se apaixonam perdidamente e começam a viver uma história de amor. Até aqui não temos nenhum problema, certo? Mesmo ele sendo um recém-convertido, nada impeça que ele se apaixone pela missionária. O problema está exatamente na construção desse relacionamento, o que temo ser um tremendo mau exemplo para as moçoilas que deram 5 estrelas para essa história no Skoob (o que foi a maçante maioria e tenho esperanças de que não sejam cristãs), sem ao menos tentar refletir claramente sobre ela.
A questão é que esta resenha não é um apanhado julgador do caráter dos personagens e sim o fato dos mesmos envolverem doutrinas bíblicas para justificar suas atitudes, mesmo não estando corretas assim. Sendo mais clara, que bom exemplo podemos tomar com uma história de uma missionária que aceita a estadia na casa do sujeito pelo qual ela está fortemente atraída? A Bíblia é clara quando enfatiza que devemos fugir das tentações da mocidade e neste caso, morar na casa do homem que gosta antes mesmo do casamento não seria uma boa saída, certo?
Rico, apesar de se dizer convertido, ainda tinha pensamentos completamente mundanos na sua cabeça, afirmava claramente o quanto achava que o corpo de Ana era delicioso e que ela não iria se “entregar” facilmente como as outras (ele falava, sem ao menos mencionar a palavra “casamento”), assim como ele também vivia atiçando a garota que dormia várias noites ao seu lado, deitada em seu peito. O pior é que Ana, ao invés de se ligar e fugir dessa cilada, achava fofo e engraçado quando Rico soltava algumas cantadas sujas sem ao menos ter algum tipo de arrependimento disso. Eu tentei largar esses preceitos de lado porque acreditava que a história iria mostrar que eles estavam errados e que Rico precisava se firmar mais na fé igual aconteceu com Angelina, o que não foi o ocorrido. Seguimos até o final com a ideia de que tudo foi normal e justificável.
Outro detalhe absurdo é que os desejos de Rico eram descritos de forma muito detalhada, me lembrou inclusive alguns livros seculares que já li, livros que podem ser até eróticos. Ao mesmo tempo que tudo isso ocorria, o casalzinho ás vezes se amassava de um jeito que pegava fogo e mesmo assim, Ana continuava com suas missões (ou ela é inocente ou bem hipócrita, por Deus). Entre essas indas e vindas, Ana revela um segredo que não me surpreendeu, mas acho que serviu para as jovens suspirarem pela situação amorosa do casalzinho. Esse segredo aliás, foi um dos grandes motivos que impediram Ana de poder finalizar com seu querido parceiro, acredito que se não fosse isso, teria acontecido.
É preocupante tudo isso no meio cristão. Eu não me incomodaria se esse livro fosse secular, porém, ele tem vários ensinamentos e passagens cristãs sendo que os protagonistas em nenhum momento se comportavam como tal ou se arrependiam do que faziam. Ana se questionava se agia corretamente só no sentido de dizer que estava com Rico e ao mesmo tempo, com um segredo fatal que escondia, ou seja, nem para ser sincera ela servia. É muito perigoso você tentar inserir ensinamentos do Senhor e não dar exemplo do que eles mostram. Se ele protege o sexo apenas depois do casamento, por que diabos uma garota vai morar sozinha na residência do seu interesse amoroso? Onde está o vigiai ali? O livro fala de homossexualismo de forma natural também.
A obra tem uma narrativa muito bem desenvolvida e tecnicamente aceitável, porém, é uma tremenda bomba para qualquer jovem cristão. Você não deve se basear na história desse casal para sua vida, em nenhuma hipótese! Rico não é perfeito (como vi muitas resenhas afirmando) por amar a Deus e ser safado e bonitão! Ele apenas não se converteu da forma correta e NÃO AGE DE MANEIRA CERTA como um verdadeiro homem de Deus (igual o Dante). Estou bem triste e chateada, porque esperava MUITO dessa história, que ela fosse tão boa quanto a primeira, mas parece que a intenção da mesma era apenas chamar a atenção da mídia secular. Neste caso, era melhor ter feito uma obra secular do que colocar Deus no meio de tanta coisa errada.

Sem mais, o texto do site acima mencionado resume toda a minha opinião. Vamos vigiar!

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