Conhece o Ferris?
Nos anos 90 os clássicos da Sessão da Tarde eram os filmes
da década de 80, e entre eles, obviamente, estava um sucesso de 1986: Curtindo
a Vida Adoidado, com Matthew Broderick no papel principal.
O filme, que tem como título original “Ferris Bueller's Day
Off”, conta a história de um adolescente que não curte muito ir para a escola,
e tira um dia para curtir a vida ao invés de estudar. Com esse resumo você pode
até pensar que o enredo não se sustentaria sozinho, mas pelo contrário, são quase
duas horas de uma aventura que na narrativa dura apenas um dia da vida de
Ferris.
Ferris é um cara muito inteligente, mas que usa essa
inteligência para coisas nada aconselháveis. Ele engana os pais com uma
facilidade assustadora, e conta também com uma boa dose de “sorte”, pois tudo
dá certo para ele, enquanto que acontece exatamente o contrário com sua mau
humorada irmã, que também não tem a mesma popularidade e simpatia que Ferris
(para piorar as coisas para ela).
Outros três personagens que aparecem com destaque no filme
são: o melhor amigo de Ferris, Cameron, que não tem nada a ver com ele, é um
hipocondríaco que costuma pensar nas consequências de tudo o que faz. Também
temos a namorada de Ferris, Sloane, pois como um bom garoto popular dos EUA ele tinha
que ter uma namorada. E não podemos esquecer do diretor, Ed, que assim como a irmã
de Ferris, detecta de longe suas armações para enganar os pais e fugir da
escola, nos dando a impressão que não foi a primeira nem última vez que ele
cabulou as aulas.
O filme é contado em primeira pessoa, o que o torna muito
perigoso para adolescentes de mente fraca. Ferris dá dicas de como matar aulas
e curtir a vida adoidado sem pensar nas consequências, que no filme são poucas
e leves, sendo que ele consegue escapar ileso de todas.
Há um subtexto por trás do personagem de Ferris, construído
de forma que a audiência venha se identificar com ele. Por ser esperto,
“sortudo”, popular, ter uma namorada bonita e um amigo bobo que “não sabe
aproveitar a vida”, tudo isso força a audiência a querer ser como ele e jamais
como seu melhor amigo ou sua irmã, por exemplo.
Sabemos que na realidade as coisas são bem diferentes e que
seguir o exemplo inconsequente de Ferris pode ser perigoso. Porém não podemos
deixar de reconhecer que o filme fez jus ao sucesso, pois é bem escrito e tem
personagens bem construídos.
A minha relação com este filme é a seguinte: nos anos 90, as
propagandas da Sessão da Tarde anunciando “Curtindo a Vida Adoidado” nunca
chamaram a minha atenção, ainda mais tocando Beatles. Mas um dia, se eu não me
engano já no ano 2000, resolvi assistir. Na época, gostei muito e me
identifiquei com Ferris, pois apesar de estudiosa, não concordava com muitas
coisas no sistema organizacional da escola, o que me levava a querer fugir de
lá em diversas situações.
Não me orgulho disso, mas já fugi sim da escola por diversas
vezes, e isso se tornou mais frequente após assistir a esse filme. As fugas
ganharam um gosto de aventura.
Na sala de aula, gostava de sentar sempre perto das janelas,
para observar que havia vida fora da escola, e que se o dia estivesse bonito,
eu não deveria desperdiçá-lo sentada em uma carteira. Essa filosofia errada que
adquiri foi sustentada pelo enredo da história de Ferris.
Não posso culpar o filme pelo meu mau comportamento, mas não
posso deixar de citar que a arte (em especial os filmes) nos influenciam e
muito, especialmente na adolescência. Ainda mais se for um adolescente de mente
fraca e totalmente influenciável como eu era.
Mas ao contrário de Ferris, as coisas não davam sempre certo
para mim, e eu sempre tinha que arcar com as consequências. “Curtindo a Vida
Adoidado” se esqueceu de mostrar este detalhe: que a gente colhe o que planta.
O filme erra ao exaltar o errado e inferiorizar o certo, rotulando sutilmente
quem segue as regras como chatos e antipáticos.
No ano 2000, essa coisa de exaltar o errado estava muito em
alta nos clipes musicais da época. Bandas como Blink 182, Limp Bizkit, The
OffSpring e o rapper Eminem, costumavam apelar para esta temática. Então pensa
como ficava minha cabeça rsrs... Assistia “Curtindo a Vida Adoidado” na Sessão
da Tarde e logo em seguida ia assitir o Top 10 da MTV com esses clipes. Minha
mente vazia era a oficina para planejar quebrar as regras. E eu quebrava, mesmo
sabendo que teria consequências.
Mas vamos ver pelo lado bom. Hoje eu posso escrever para
vocês, alertando-os sobre a influência da mídia nas nossas atitudes. Lembre-se
sempre de seguir bons exemplos, pois a vida real é bem diferente da ficção.
Também não se esqueça que o que você plantar, pode até demorar, mas você vai
colher.
Dedico este texto a minha amiga Rosana Trevisan, que em
algum momento também deve ter se inspirado em Ferrys kkk.
"Como podem esperar que eu vá para a escola em um dia como este?" (Ferris Bueller) -> foi pensando assim que eu me dei mal muitas vezes rs.
Luana Alves
Moro em uma cidade com pouco mais de 18 mil habitantes (acredite, esse dado é importante no meu perfil). Sou professora de educação infantil, formada em roteiro de cinema, cursando Letras, líder de jovens na igreja. Minha casa é verde e quase tudo que há dentro dela também kkk. Amo minha família, amo escrever, mas o meu Deus eu mais que amo, Ele é a Razão de tudo, inclusive disso.
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